segunda-feira, 15 de junho de 2020

A GERAÇÃO DE 45 NA PROSA E NA POESIA BRASILEIRA




      No primeiro bimestre, estudamos a 1ª e 2ª fases do Modernismo, suas características e seus principais autores. Agora, vamos avançar e estudar o pós-modernismo, especificamente a última fase: geração de 45.

     A época em que aparece e se desenrola o pós-modernismo literário é de muitas mudanças no Brasil e no mundo, principalmente com o fim da Segunda Guerra Mundial. A partir de 1945, aparece no Brasil uma geração de escritores sintonizados com o pensar sobre o homem e sobre o mundo, isto é, sobre o que abala a nossa alma.

     Tanto na prosa quanto na poesia, os autores desta geração procuraram experimentar novas formas de composição, usando a linguagem de forma diferenciada para mostrar seus objetivos.

 

Na prosa, podemos destacar: Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna entre outros.

Para que possamos entender as características literárias desta geração, vamos propor a você que leia dois fragmentos do Romance Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Antes, porém, que tal conhecer um pouco sobre o autor?

João Guimarães Rosa nasceu em 1908 em Cordisburgo (Minas Gerais).Na infância conviveu com vaqueiros de quem ouvia os “causos”. Este autor renovou, reinventou a prosa regionalista, ao inserir temáticas de ordem mística e filosófica nas suas narrativas. Além disso, o trabalho que autor faz com a linguagem é impecável, pois cria palavras, modifica a ordem das mesmas. Guimarães Rosa aborda as questões regionais e, ao mesmo tempo, tenta mostrar o mundo de cada personagem, a universalidade.

  

Trecho I

     De primeiro, eu fazia e mexia, e pensar não pensava. Não possuía os prazos. Vivi puxando difícil de dificel, peixe vivo no moquém: quem moi no asp’ro, não fantaseia. Mas, agora, feita a folga que me vem, e sem pequenos dessossegos, estou de range rede. E me inventei neste gosto, de es pecular ideia. O diabo existe e não existe? Dou o dito. Abrenúncio. Essas melancolias.

     O senhor vê: existe cachoeira; e pois? Mas cachoeira é barranco de chão, e água se caindo por ele, retombando; o senhor consome essa água, ou desfaz o barranco, sobra cachoeira alguma? Viver é negócio muito perigoso...

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo,franco – é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso – por estúrdio que me vejam – é de minha certa importância. Tomara não fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela-já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter sua aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. (...)

Guimarães Rosa. Grande Sertão: veredas. 1994, pp 7-9. Disponível em http://stoa.usp.br/carloshgn/files/-1/20292/GrandeSertoVeredasGuimaresRosa.pdf

 

Trecho II

     Mire veja: um casal, no Rio do Borá, daqui longe, só porque marido e mulher eram primos carnais, os quatro meninos deles vieram nascendo com a pior transformação que há: sem braços e sem pernas, só os tocos... Arre, nem posso figurar minha ideia nisso! Refiro ao senhor: um outro doutor, doutor rapaz, que explorava as pedras turmalinas no vale do Araçuaí, discorreu me dizendo que a vida da gente encarna e reencama, por progresso próprio, mas que Deus não há. Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há - de a gente perdidos no vai vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo.        Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos –não doi sem precisar de se ter razão nem conhecimento? E as pessoas não nascem sempre? Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem -fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor...

Guimarães Rosa. Grande Sertão: veredas. 1994, pp 77-78. Disponível em http://stoa.usp.br/carloshgn/files/-1/20292/GrandeSertoVeredasGuimaresRosa.pdf

GERAÇÃO DE 45 – POESIA

 

     Vamos iniciar a nossa aula solicitando a você, aluno, que observe as palavras abaixo:

“Não há obra de arte sem forma, e a beleza

é um problema de técnica e de forma.”

(Péricles Eugênio da Silva Ramos)

     O que será que o autor quis afirmar quando escreveu “não há arte sem forma” e que “a beleza (de uma obra de arte) é uma questão de técnica e de forma”?

É o que vamos descobrir, nesta aula, através de uma geração de poetas que ficou justamente conhecida como Geração de 45, pois o marco da estética foi o ano de 1945.

Esta geração se preocupava muito com a FORMA de escrever um poema, com a linguagem em si, se propunha um retorno às formas tradicionais do verso, como o soneto, e negava o experimentalismo dos modernistas de 1922, por isso ficou conhecida como a geração que diz que “a poesia é a arte da palavra“. Ou seja, a arte não é intuitiva, é calculada, é nua, é crua. E como disse o autor Péricles acima, não há obra de arte sem forma, sem forma calculada.

Do pensamento dessa geração, podemos então listar as principais características (procedimentos formais).

Principais procedimentos formais e linguísticos da Geração de 45

Metalinguagem (reflexão sobre o processo de criação literária);

Postura racional, anti-sentimental; Linguagem metafórica ou poética, que relativiza os limites entre poesia e prosa; Invenção de palavras novas a partir de recursos disponíveis na língua: neologismo.

Com a geração de 45, "a poesia aprofunda a depuração formal, regressando a certas disciplinas quebradas pela revolta de 22, restaurando a dignidade e severidade da linguagem e dos temas, policiando a emoção por um esforço de objetivismo e intelectualismo, e restabelecendo alguns gêneros fixos, como o soneto e a ode". (COUTINHO, Afrânio). Além de renovar a poesia pela prática da atenção à forma, busca também mensagens de crítica social.

São poetas dessa época: João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Domingos Carvalho da Silva.

Veja, agora, um exemplo de poesia da geração de 1945:

Catar Feijão

  Catar feijão se limita com escrever: jogam-se os grãos na água do alguidar e as palavras na da folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo; pois catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pesado ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a com risco.

Comentário: Catar Feijão é um poema em que o poeta, tendo como objeto a construção do poema, toma como referente um ato do cotidiano em que também o escolher, o combinar é necessário. Nesse caso ele compara catar palavras com catar feijão. É um poema que ao final nos mostra como construir um poema, apresentando assim a característica da metalinguagem. Além disso, a FORMA, o como diz o que diz é o que importa neste poema de João Cabral de Melo Neto, fazendo dele um autor típico da Geração de 45.

Vamos agora comentar sobre outra característica desta Geração: o NEOLOGISMO. Veja o conceito abaixo.

Neologismo: é o processo de criação de uma nova palavra na língua devido à necessidade de nomear novos objetos, novos conceitos ou fazer referência a novas ideias em uma situação específica.

 

Voltemos ao poema Catar Feijão. Observe os versos:

 

“a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual

 

Se você, caro aluno, for ao dicionário Houaiss, por exemplo, e procurar por fluviante e flutual não encontrará. São duas palavras criadas pelo poeta, são neologismos construídos a partir das palavras fluvial (referência a um rio) e flutuante (flutuação própria em um rio) em que as partes finais das duas palavras, ou seja, neste caso específico, os seus sufixos, são recolocados no outro termo.

Outro recurso literário utilizado no poema é a metáfora.

METÁFORA: É uma figura de palavra em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam.

Fonte da pesquisa: Atividades Autorreguladas do 2º bimestre – Material didático.

 



 

7 comentários:

  1. Queridos leitores e alunos, pesquisem mais online, tenham um instinto investigativo apurado. Um ótimo vídeo sobre a matéria está em : https://youtu.be/PgIpuJLe6zA (Do Professor Beto)

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  2. Bom dia, professora. Ótimo conteúdo!

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    1. Obrigada, Ivanil. Em breve, você vai ingressar na Aeronáutica. Tenho total certeza disso! Sucesso.

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  3. Matéria muito boa, profi. Vou aproveitar para estudar mais. Valeu!

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    1. Obrigada. Continue pesquisando. O conhecimento abre novos horizontes!

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